Descrição
Por que falar de luto e morte? Disso que ninguém quer saber? Bethania ouve e analisa os testemunhos no entremeio da psicanálise e da história. É novamente o sujeito em questão, noção que lhe é tão cara e plural. Enquanto analista do discurso, reúne possíveis ditos daquilo que é impossível de dizer, na possibilidade do memoriável. Reafirma os invisíveis discursos de resistência. Trata da coibição das lutas sociais. Problematiza o efeito de legitimação das ações violentas. Bethania não aceita a inscrição histórica censurada, imposta pelas instâncias de poder, expõe os deslocamentos e equivocidades. Dá visibilidade às revoltas cotidianas, na perspectiva pecheutiana, assinala que há sempre um ponto de origem não-detectável que faz retorno, impossível de ser aplacado, pois há sempre um foco de insurreição não monitorado. Portanto, esse livrinho – como ela chama com intimidade – pode ser tanto uma flor como uma pequena pedra. Uma flor que brota na brecha do real da história para oferecer um pouco de conforto à dor nas sepulturas enlutadas e nas valas desritualizadas, é também uma promessa. Uma pequena pedra que pode ser guardada na mão fechada, escondida como uma faca embainhada, capaz de abrir fissuras nos discursos oficiais, colocando em crise a ferida para fazer uma crítica à afirmação do ódio. Bethania está advertida do inconsciente político. Sim! Ela está com o pé na estrada. E nós?
Luciene Jung de Campos
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