Descrição
O que é peculiar aos domínios das Humanidades é justamente o seu caráter auto-reflexivo, sobretudo quando se ocupa da reflexão do próprio conhecimento, assim como da forma como os objetos e objetivos do conhecimento são produzidos, explicados e compreendidos à luz da língua, do tempo, do espaço, dos símbolos, das formas, do pensamento, da sociedade, da arte, da política, do mercado e, por fim, da vida. Neste sentido, é possível observar, em todos os campos do conhecimento – em termos teóricos, práticos, técnicos – áreas que atuam sobre a produção de sentido e reflexão sobre o próprio conhecimento, as quais também podemos considerar como atividade humanística em geral. Nenhum campo do conhecimento pode prescindir de conhecimento histórico e filosófico sobre si mesmo, uma vez que a consolidação do conhecimento científico só foi possível graças à ação humana de muitos pensadores e investigadores que, através da reflexão, da dúvida e do ceticismo permanente, efetivaram a evolução de todos os domínios da ciência e do saber através dos tempos. A própria natureza do conhecimento científico impede esse movimento de alienação em direção à reflexão e à compreensão, de modo que nenhum cosmólogo, físico, biólogo ou matemático, entre outros, descarta um profundo mergulho nas origens históricas e na configuração filosófica de seus próprios domínios de atuação. Portanto, as Humanidades não são as únicas áreas do conhecimento científico que têm o próprio conhecimento como objeto primeiro de sua reflexão e investigação, mas é próprio das áreas do conhecimento humanístico a prática do meta-conhecimento e, em função disso, estão habilitadas a fornecer à sociedade e ao meio acadêmico algo profundamente indispensável ao avanço das ciências em geral: a capacidade teórica e prática de articular, a partir de um espectro interdisciplinar e multidisciplinar, todos os domínios do conhecimento, através não apenas de suas matrizes e vertentes simbólicas, mas também epistêmicas e metodológicas, na permanente observação, compreensão, reflexão e denúncia daquilo que têm de caduco, esclerosado, ultrapassado, e, com isso, criando as condições vitais necessárias para que surja o novo, a mudança, o avanço. Ao longo da história, verifica-se com enorme constância que as Humanidades, ao lado de outros campos do conhecimento, têm atuado poderosamente no combate e denúncia dos discursos pseudocientíficos e falaciosos em geral, como o racismo científico da eugenia, todas as formas de totalitarismo e autoritarismo político, na crítica constante aos valores sociais que ameaçam derruir todo o edifício da convivência humana, enfim, na contínua batalha contra todas as formas de ameaça à liberdade de pensamento e investigação.
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