Descrição
Faz-se necessário, pois, insistir em que o público-alvo da política de cotas também é alvo de ações e iniciativas diversas, muitas das quais igualmente oriundas de atos de governo, de políticas, de culturas: cortes orçamentários, retirada de direitos, banimentos vários, injúrias, agressões e (quando menos) críticas e discursos desqualificantes.
E, no limite, genocídio, extermínio, torturas diversas. As histórias de superação não obliteram episódios opressivos, humilhantes, que tem testado, cotidianamente, a persistência do sonho. Os relatos, por óbvio, dão conta de vitórias, mas com todo o dispêndio de energia para lidar com grandes e pequenos obstáculos. Entraves estes absolutamente desnecessários, se a política de cotas já tivesse sido compreendida e absorvida pela dinâmica das universidades. Diante disso, quem iria se colocar, deliberadamente, na mira?
Quem assumiria em sua voz a fala daqueles/as que, emudecidos/as por um sistema opressor que, tantas vezes, apenas os/as tolera em seu meio, por força de uma lei indigesta, já nem conseguem articular um grito em defesa de seu lugar nesse mundo? Pois houve estes e estas que, assim, se colocaram: muitas bandeiras foram levantadas aqui, pela defesa, permanência e ampliação da política de cotas.
Os estudos acadêmicos que comparecem a esta reunião são incisivos e certeiros, em seu caráter afirmativo de direitos – como flechas direcionadas aos estereótipos e aos falsos consensos. Se estudantes cotistas não enunciaram uma profusão de citações teóricas, esta coletânea está perfumada de sua poesia, de seus contos, dos exercícios de (auto)ficção, de sua fala “destilada da experiência”.
O produto final é este relicário de afetos e reflexões, de cotistas e não cotistas, negras(os) e não negras(os), estudantes, egressas(os), docentes e técnica. E muito nos orgulha apresentar suas ideias que nascem das sensações. Que o conhecimento, antes sentido que enunciado, produto do “sonho que faz nascer os conceitos” e materializado em suas falas poéticas, possa levar a uma maior compreensão sobre a importância de um tema, cuja abordagem está longe de se esgotar. E que, nos próximos dez anos, epistemologias, coletâneas literárias, manuais, cartografias, dicionários, compêndios científicos, livros de arte e objetos de cultura se encham de escritas negras.
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