Descrição
Do culto neoclássico aos monumentos antigos à valorização romântica da arquitetura gótica; do horror provocado pelos escombros das Guerras Mundiais à desilusão em face à decrepitude das fábricas e usinas abandonadas, a experiência das ruínas vem plasmando formas fundamentais de consciência histórica. Por meio dela, ocorre uma complexa negociação entre temporalidades: a construção discursiva sobre o passado, a produção de autoconsciência sobre o presente e a elaboração de imaginários sobre o futuro.
Dentro dessa perspectiva, uma questão fundamental que se impõe hoje é compreender como o aumento vertiginoso da produção de imagens e suas relações com diferentes concepções de ruínas plasmam formas contemporâneas de consciência histórica. Este livro busca responder a essa questão a partir de uma visão expandida das acepções de imagem & ruína que coloca em relevo a potência desse encontro enquanto categoria voltada a pensar um conjunto heteróclito de fenômenos contemporâneos. Desse modo, os artigos que integram este volume colocam em causa práticas socioculturais, como a gambiarra e o colecionismo; processos de subjetivação, como a experiência diaspórica e os afetos de melancolia; formas de segregação socioespacial, como o racismo ambiental e a degradação das cidades; e questões estético-políticas, como os modos nos quais as imagens fotográfica e cinematográfica conformam imaginários distópicos, assim como as imagens poéticas, por seu turno, representam a decomposição da natureza e os destroços do mundo urbano.
Se, como afirma o filósofo francês François Soulage, em entrevista que integra este livro, “a imagem está sempre à espreita da ruína”, Imagem & ruína atesta sua relevância como sismógrafo de um mundo fortemente vincado, justamente, pela experiência das imagens de ruínas na produção de nossa consciência histórica do presente, seja em virtude dos efeitos dramáticos do extrativismo, da estetização dos escombros das guerras ora em curso ou das políticas de (des)construção da memória.
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