Descrição
A história de qualquer formação social é a história de horrores perpetrados. Reivindicados pela memória, são condenados ou celebrados, mas raramente se dissipam porque cumprem um expediente fundamental na produção do imaginário social: fundam posições, lugares de identificação, sustentam discursividades que organizam as formas de vida e morte. Comparecem como objetos preponderantes dos usos políticos do esquecimento e do memorável. É justamente por isso que os arquivos, traços intervalares desses acontecimentos, não são provas que representam o acontecido, mas objetos em disputa na elaboração conflituosa do passado, presente e futuro. Pensemos no Brasil, cujo horror nos toca mais de perto. Não seria exagero dizer que este país foi erigido no horror da violência colonial, do assassinato e da conversão dos povos originários; do tráfico transatlântico de africanos, vidas transformadas em insumos do modo de produção escravista; da ditadura civil-militar; da violência de Estado contra negros, mulheres, transexuais, indígenas e demais minorias. Elemento constitutivo da composição de uma formação social, o horror ocupa, no entanto, as frestas de um imaginário nacional marcado cinicamente pela sua negação: unidade, mistura harmônica de raças, cordialidade.
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