Descrição
Considerados o grande número de greves no serviço público e as recorrentes dissenções políticas sobre os seus procedimentos e a sua legitimidade, o grau de tensionamento social e político se amplia bastante quando a categoria em litígio é formada por policiais. Afinal, a Polícia Militar pode ou não pode fazer greve? Suas greves são legítimas ou não? Neste livro, analiso alguns funcionamentos discursivos em torno dos dizeres que circularam na sociedade em razão de movimentos grevistas de servidores da Polícia Militar da Bahia. A Análise do Discurso pecheuxtiana, enquanto prática de compreensão histórica dos processos semânticos, nos permite compreender como as tensões sociais se processam no campo da linguagem. A hegemonia das formações sociais capitalistas, sempre posta à prova nos confrontos entre capital e trabalho, configura os delineamentos mais gerais do embate ideológico da ideologia dominante versus ideologias dominadas. Nos embates ideológicos das lutas de classes, o funcionamento da língua evidencia que os sentidos produzidos em torno de uma expressão, de uma palavra, de um gesto, de um pronunciamento em público, de uma ação etc., sofrem modificações a depender das posições sustentadas e implicadas em uma determinada conjuntura sócio-histórica. Por conseguinte, o corpus analisado fora selecionado com base na busca por pistas que ajudassem a compreender como e através de que elementos textuais e discursivos afloram tensões entre os servidores públicos da área de segurança e o empregador, gestor estatal situado à esquerda do espectro político. Na busca também em compreender o porquê, como e sob quais condições os discursos em torno dos sentidos de greve são construídos a partir de ideologias que diferem quanto à possibilidade de os militares participarem da polis, do exercício político. Dentre os resultados, destacamos que os dizeres veiculados, em conjuntura antidemocrática, “não se pode fazer greve” e os dizeres veiculados, em conjunturas democratizadas, “a greve é ilegal”, equivalem-se semanticamente e independem de o partido em situação ser de esquerda ou de direita; além de que a ação de militares-grevistas, na voz do governador da Bahia em 2012, equivaleu semanticamente a uma aventura contra a democracia sem caráter reivindicatório.
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