Descrição
Neste estudo, faço uma análise do livro de leitura Compendio de Civilidade Cristã como texto, por meio da análise/teoria dialógica do discurso (Círculo de Bakhtin) e como objeto físico, com base na história do livro e das edições didática (Roger Chartier). Realizo uma investigação sobre a história do livro didático no Brasil, destacando a produção, a impressão, os editores, a edição e a caracterização do livro didático da Amazônia paraense, no século XIX e no início do século XX, e as ideologias sobre a educação nacional na passagem do Império para a República. Analiso o contexto social, religioso, econômico e cultural da Amazônia paraense do período, trazendo para a discussão a ‘Era da borracha’ e as ideologias da Belle Époque. Discuto a relação Igreja-Estado na veiculação de ideologias educacionais na Amazônia no século XIX. Aponto as contribuições de D. Macedo Costa (autor do Compendio) para a educação no Pará. Discuto as ideologias inscritas na materialidade física da obra, analisando o gênero discursivo ‘livro escolar de leitura’ do ponto de vista de sua função social e de suas características (conteúdo temático, construção composicional e estilo) e as marcas (protocolos de leitura) que autor e editor deixam no livro com o objetivo de impor uma leitura e um sentido único para um público visado. Por fim, analiso, no Compendio, os discursos que ordenavam a educação de meninos no final do século XIX e início do século XX na Amazônia paraense: discuto os significados e sentidos dos termos ‘civilidade’ e ‘civilização’ e analiso a obra por meio de três categorias: o ‘eu’ civilizado na Amazônia paraense: o discurso que legitima a cultura europeia; o ‘outro’ bárbaro na Amazônia paraense: o discurso que nega a cultura paraense e o ‘eu’ e o ‘outro’ na Amazônia paraense: o discurso que legitima os princípios universais da moral cristã. Sobre esta última categoria, acima e além de uma ideia de educação nacional baseada nos usos e costumes franceses ou na cultura paraense, há uma ideia de educação baseada em princípios universais, ensinados pelo Cristo por preceito e pelo exemplo: o amor ao próximo revelado por meio da honestidade, da bondade, da integridade, da justiça, do respeito, da veracidade, da lealdade etc. Esses valores desconstroem a ideia de civilização que valoriza uma cultura sobre outra(s) e resgata o sentido etimológico da palavra (civilitas), que envolve a cidadania e se relaciona com o respeito ao outro, com o exercício da dignidade humana.
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