Descrição
A delicada e intempestiva relação do Eu com a perda perpassa o enlutamento e transforma a memória em um espaço de confronto entre presença e ausência, entre o afeto concreto do outro que se toca com as mãos e o corpo refeito em lembrança que passa a habitar o intocável do íntimo de cada um. É uma travessia que ultrapassa o campo interior e, para muitos, manifesta-se na ordem espacial do cotidiano pela ânsia de afastar-se dos espaços que despertam a dor do vazio deixado pela morte. Dessa dinâmica, surge a migrância de experiências e indivíduos marcados por uma perda do outro que é, ainda, uma destituição de parte de si mesmos e de seus lugares no mundo.
Na reflexão aqui proposta, essa reorganização do Eu atravessada pelos deslocamentos subjetivos e espaciais é observada e discutida por meio da leitura dos romances Rakushisha, Azul corvo e Todos os santos, de Adriana Lisboa, compostos por narrações que deixam entrever diversas trajetórias de perlaboração da perda que se entrecruzam por aquilo que portam de traumático e pela potencialidade de reconstrução do pertencimento de suas personagens.
Na palavra, as jornadas individuais desses sujeitos refletem um processo de vivência da dor mediado pela revisita ao passado como forma de abrir caminhos para um futuro possível sem o outro.
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